Música, Memória e Luta com Dead Fish: O Lançamento de ‘Labirinto da Memória’, em Porto Alegre

Você é uma vítima do hardcore melódico? Eu também.

No último sábado, dia 20 de abril, o Opinião foi palco de um evento que ultrapassou as barreiras da música: foi também uma celebração de resistência, de memória e de luta contra o autoritarismo. O Dead Fish, uma das principais bandas do cenário do hardcore brasileiro, veio à Porto Alegre e entregou uma performance visceral e carregada de significado, marcando o lançamento de seu novo álbum, “Labirinto da Memória”. O lançamento não só traz o som enérgico e as letras contestadoras que caracterizam a trajetória da banda, mas também mergulha nas profundezas das memórias coletivas e individuais, desde laços de amizade até a resistência contra a Ditadura Militar, enquanto denuncia os desafios que assolam nossa sociedade, que não cansa de insistir no retrocesso. Com Labirinto da Memória, o Dead Fish renovou, mais uma vez, seu compromisso de usar a música como instrumento de transformação e protesto – e trouxe essa energia para o público gaúcho.

As duas bandas de abertura do evento, Tropical Mess e Vultures, ambas locais, não apenas aqueceram o público, mas também estabeleceram uma atmosfera poderosa e coesa que preparou o terreno para a intensidade do Dead Fish. A Tropical Mess mergulhou de cabeça em um som hardcore poderoso que animou o público, inicialmente tímido. A presença marcante de adereços como a bandeira da Palestina e símbolos antifascistas no palco não apenas reforçou a mensagem da banda, mas também estabeleceu uma conexão imediata com a audiência, trazendo à tona a essência revolucionária do hardcore. Por sua vez, a Vultures entregou um hardcore mais agressivo e denso, com arranjos pesados, vocal gutural e uma performance fervorosa. O quarteto solidificou o palco para o Dead Fish, que subiu no palco por volta das 21h e encontrou um Opinião lotado.

A entrada da banda foi marcada por uma recepção calorosa e amorosa dos fãs, que gritavam “Ei, Dead Fish, vai tomar no cu!”, mostrando seu profundo respeito pela banda (sim, é pra rir). Sem hesitação, o Dead Fish iniciou com “Afasia”, uma explosão sonora capaz de “dar um sacode” até mesmo nos mais desavisados do público. Logo na segunda música, as faixas do novo álbum começaram a ganhar destaque, com “Avenida Maruípe” e “Adeus Adeus”. Com mais de 30 anos de estrada, a banda trouxe uma audiência diversificada, onde era possível testemunhar a presença de pais e filhos compartilhando o mesmo espaço, unidos pela música. Essas cenas não apenas ilustram a longevidade e a influência duradoura da banda, mas também demonstram como a música é um elo inquebrável entre diferentes épocas e experiências de vida.

O público cantava cada palavra das músicas novas, assim como das antigas, provando que o Dead Fish tem fãs fiéis, e de todas as idades, que acompanham cada lançamento e cada evolução da banda, alguns desde o início. Enquanto a noite avançava, a interação entre a banda e os fãs era muito presente, com fãs subindo no palco e se jogando para o crowd surfing, dividindo o microfone com Rodrigo e fazendo rodinhas intermináveis com uma energia que parecia de outro mundo – a alegria de estar ali, compartilhando aquele momento com a banda e com outros fãs que partilham do mesmo sentimento, transbordava em cada um.

O setlist do Dead Fish contou com cerca de 25 músicas e, embora o foco estivesse no lançamento do novo álbum, a banda não deixou de trazer uma seleção impecável de clássicos da banda, como “Queda Livre”, “Você”, “Zero e Um”, “Bem-Vindo ao Clube”, “Asfalto”, “Tão Iguais” e “Sonho Médio”. Enquanto o público se entregava à energia do show, Rodrigo Lima aproveitava os intervalos entre as músicas para compartilhar reflexões sobre questões urgentes que permeiam nossa sociedade. Rodrigo trouxe reflexões sobre a urgência da Reforma Agrária e a relevância do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), e ressaltou a necessidade de permanecermos unidos em tempos de divisão, lembrando que somente através da colaboração mútua dos nossos é que podemos construir um futuro mais justo e igualitário. Essas palavras não só enriqueceram a experiência do show, mas também ressaltaram o compromisso da banda com questões sociais e políticas – o que sempre inspirou muitos fãs a lutarem pelo certo.

Assim, o Dead Fish não apenas entregou uma performance inesquecível, mas reafirmou sua conexão íntima com aqueles que encontram, na sua música, um grito de liberdade e resistência.

O show de lançamento do Labirinto da Memória, celebrou a música, a resistência e ressaltou o poder da arte em conectar gerações. Cada momento foi carregado de significado, refletindo a energia do público com o hardcore do Dead Fish e o compromisso da banda com questões sociais e políticas urgentes, inspirando uma comunidade de fãs a continuarem lutando por um mundo mais justo e igualitário. Mais uma vez, ficou claro que o legado do Dead Fish vai muito além da música; é um símbolo vivo da capacidade transformadora da arte em inspirar mudanças reais no mundo.

Confira todas as fotos que fizemos do evento clicando aqui.

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