Didicografia: A primeira vez que eu ouvi Animalia

2024 marca o período de 10 anos do lançamento do Animalia, que inaugurou a atual fase da banda Menores Atos, trio carioca de rock alternativo. A data de estreia, é 10 de fevereiro de 2014, logo antes do Carnaval.

O álbum foi oficialmente lançado num post do Tenho Mais Discos Que Amigos! que apresentava a banda e o álbum para novos públicos e tinha o player do bandcamp. Na época, ainda baixávamos música (nossa, me senti velho aqui) e lembro da sugestão da banda, “coloquem name your price, e digitem 0 mesmo. não tem problema, é pra baixar e ouvir muito.”

O lançamento do álbum, é algo que guardo no coração, porque acabei presenciando de perto, desde o imediato começo a disseminação da banda e como as pessoas foram conquistadas de pouquinho e pouquinho.

Ouvindo pela primeira vez

Era janeiro de 2014, e o Hateen voltava ao RJ após MUITOS anos sem show na cidade, na pequena gigante Audio Rebel, lendária casa de vários undergrounds, localizada em Botafogo. Mas o texto de hoje não é pra falar deles.

Na abertura, tinha uma banda que eu nunca ouvi falar (posteriormente descobri que já tinha bastante história na cena carioca) que na verdade era um trio, com todos microfonados, inclusive o baterista. E nos vocais principais, o Cyro que já conhecia por bandas anteriores.

No instante que iniciou o show, eu e todos da casa fomos imediatamente hipnotizados pelas primeiras notas tocadas usando tapping, técnica familiar para os ouvintes de math rock/midwest emo. Os primeiros acordes já denotavam um extremo bom gosto musical da banda, e o som da casa/estúdio só melhorava toda a experiência.

Nas primeiras palavras ditas, “Eu decidi falar o que foi bom….” já deu pra entender que era daquelas bandas que a música é facilmente cantável pelo público, tipo Fresno e Zander, que os shows mais parecem um culto com todo mundo emocionado cantando a plenos pulmões. Algo que se comprovaria nos anos seguintes da banda.

Conforme iam cantando as músicas, percebia outra grande qualidade de apresentações: presença com muita energia, mesmo que melancólica. Uma das melhores sensações do emo, são shows em que há uma catarse de sofrimento e melancolia.

Uma das melhores sensações do emo, são shows em que há uma catarse de sofrimento e melancolia

Na metade do show, já tava todo mundo comprado e completamente entretido. Em algum momento, talvez no final, se apresenta uma música que já parecia diferente. Energia melancólica, só que mais intensa e parecia ter uma estrutura meio diferente. Em algum momento os instrumentos diminuem e ela dá uma virada, construindo uma parte que seria emblemática e emocionantes nos anos seguintes. O três vocais cantando em coro e citando de maneira alternada: “Preparar…. Apontar… Puxar o gatilho….”. Era a primeira vez que eu ouvia e presenciava, Transtorno, e eu nunca mais esqueci. Nem da música, nem da banda.

Aquele momento, eu sabia que já tinha me tornado fã e foi a apenas primeira apresentação que eu vi de Menores Atos, duas semanas antes do lançamento do Animalia.

Animalia

Após o show, aguardei ansiosamente o álbum sair. Chegado o dia, dei play e tudo já soava maravilhosamente bem de primeira. Capa, conceito, sonoridade, letras, ritmo das músicas. Tudo. Esse aqui é dos poucos álbums e coisas, que eu realmente acho perfeito, ou como gosto de falar, redondinho. Tudo na mais perfeita harmonia.

Fevereiro do ano passado, tive o prazer de pegar a versão em vinil do álbum

Começamos com a faixa título que serve de introdução, e eu AMO introduções, principalmente nesse caso que é um instrumental mais longo da música seguinte, e logo depois temos À Distância, que como disse, conquista já nas primeiras notas tocadas e abrindo muito bem o álbum, com uma que é uma das mais queridas.

Este cd pode ser chamado de clássico, por já ter vários hits da banda de primeira. Reouvindo pra escrever o texto, é legal perceber como o começo até Sereno é irretocável!!! Um musicão atrás do outro. Quem já foi em show da banda, desde lá mas até hoje, o refrão “Um pouco de você…. em mim, talvez pudesse me fazer bem” de Passional, é cantado a plenos pulmões, com muita emoção, como se todos nós tívessemos escritos a música.

Falando em escrever, um dos grandes méritos do álbum são as letras, tão sinceras que são instantâneamente identificáveis. Lá em 2014, o que fez o álbum bater tanto foi como ele descrevia de uma ponta a outra, um relacionamento que estava vivendo na época. Partes boas e ruins. Uma das coisas mais gostosas sobre música, é essa identificação como se tivessem feito aquilo para você.

Uma das coisas mais gostosas sobre música, é essa identificação como se tivessem feito aquilo para você.

Não era muito fã de Sobre cafés e você, essa é uma que eu só fui curtir com o tempo. Mas, além deu ser minoria (é a segunda mais tocada da banda no spotify), ela é um bom exemplo do ritmo do álbum e de como ele não cai num erro comum, de várias músicas parecidas ou cópias de si mesmas. E acho que quebra muito bem a primeira parte, iniciando um clima de final do álbum.

O álbum encerra com uma ótima participação de Reynaldo Cruz, vocal do Plastic Fire, que era uma banda que estava bastante em alta na época e que os integrantes eram todos amigos pessoais do pessoal do Menores.

Conclusão

10 anos depois, é até fácil entender porque esse álbum é clássico. Acerta em todos os aspectos, emociona a todos que ouve e possui músicas acessíveis para qualquer um fora da bolha rock. Espero que o texto tenha ajudado a desenhar o recorte de tempo e espaço que permitiu a existência do álbum, como a própria descrição no bandcamp diz: “Em meados de 2013 começamos a gravar esse álbum, mas na nossa mente ele já estava pronto há muito tempo. O maior orgulho, para nós, não está somente no resultado e sim na construção. Foi incrível viver cada uma dessas músicas […]”

Obrigado quem chegou até aqui, foi ótimo despejar meu coração nas palavras escritas.

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